domingo, 7 de outubro de 2007

As Aventuras de Lucas Bandeira - Parte I

Lucas da Silva Bandeira nasceu não me lembro quando em algum lugar do Brasil. Alguns dias após seu nascimento, seus pais se separaram. O pai, afro-descendente, ou negão para os íntimos, ficou irado quando viu a criança asiática nascendo.

Naquele dia iria completar oito anos. Por mais que tentasse demonstrar alegria, a mãe não conseguia sorrir de forma muito convincente na fatídica data. A festa era só entre a família, Lucas não tinha muitos amigos, pois fora obrigado a crescer mais rápido. Sem o pai em casa, a mãe de Lucas foi obrigada a passar a maior parte do dia trabalhando, enquanto o menino ia à escola, lavava as roupas e cozinhava.

Ao anoitecer, sua mãe chegou do trabalho. Seu avô já estava lá, quieto na poltrona observando o neto. Todos se sentaram em roda como de costume, iria abrir seus presentes, dormir e voltar a viver sua vida normalmente. Pelo menos seria o habitual.

A mãe entregou um par de meias, o garoto fingiu sorrir. Do avô esperava algo do gênero, uma camisa talvez, ou um pulôver se estivesse com sorte. As mãos trêmulas do avô, que falava entre engasgos se esticaram com um embrulho mais pesado do que o habitual.

- Tome aqui, Lucas. Vá, abra.

Lucas tomou sem dizer nenhuma palavra, a lâmpada fraca que iluminava o aposento falhava. Ao abrir o embrulho, o menino olhou intrigado. O avô abriu um sorriso, cortado por um engasgo.

Tossiu um pouco e caiu no chão.

- Pai! – gritou a mãe de Lucas.

Saíram da casa correndo e foram até a UTI. Uma fila enorme com pessoas em situações similares os parava. O avô acabou morrendo ali mesmo, na fila, como muitos outros.

O que havia no embrulho? Um livro, vazio. Sem cores, sem datas, sem calendário e sem palavras; pedindo para ser preenchido.

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